No jardim de Monet...

Por: Rose Aielo Blanco*


Oscar Claude Monet (1840-1926) vivia em Giverny, propriedade adquirida na Normandia. Foi lá que ele cultivou um enorme jardim, construiu estufas e uma ponte japonesa sobre um lago. O jardim, além de receber os cuidados pessoais de Monet, chegou a ser tratado por 14 jardineiros! 

O amor do pintor pelas plantas pode ser sentido por meio de suas obras: as flores, a ponte japonesa, o lago com ninféias, o roseiral, entre outros exemplos, estão presentes em seus quadros. A ninféias, inclusive, formam um capítulo à parte. Monet cultivava diversas espécies desta planta aquática e passava horas estudando-as. Este “carinho especial” pode ser comprovado em várias de suas telas inspiradas nas ninféias e no jogo de imagens que resultavam do efeito criado entre as plantas e a imagem das nuvens refletidas no lago: nuvens e ninféias aparecem compartilhando o mesmo espaço.
Em Giverny, além da casa cor-de-rosa, onde Monet morou até à sua morte, havia o jardim, que ele transformou num “mar de flores” inspirador de inúmeras pinturas, em todas as épocas do ano. A paixão de Monet pela jardinagem, iniciada desde os tempos em que viveu em Argenteuil, encontrou ali, em Giverny, um campo vasto para se desenvolver. Este amor pela jardinagem e por flores raras, além de ser o tema preferido em suas conversas, era compartilhado com amigos, como o escritor Octave Mirbeau que, em certa ocasião, lhe escreveu estas frases numa carta: “Como diz, vamos apenas falar sobre o tratamento das flores, visto que a arte e a literatura são bastante maçantes. Apenas a terra tem importância e amo-a como se ama uma mulher”.
Apesar de já estar perto dos 60 anos, durante os meses de verão Monet levantava-se muito antes do sol nascer, para registrar em seus quadros aquele momento da aurora em que o céu mudava de cor e a névoa ainda pairava sobre o rio. O sentimento em relação à natureza e à harmonia universal também ficou registrado em palavras, como na afirmação que o artista teria feito à Lila Cabot: “Se sair para pintar, não se esqueça que cada uma das folhas duma árvore tem a importância dos traços do seu modelo”.

A Ponte Japonesa, 1899 (Le Bassin aux Nymphéas - óleo sobre tela)

Em 1897, existiam pelo menos 14 aspectos do “jardim aquático de Giverny”, no atelier de Monet. O motivo do jardim das ninféias e o seu espaço envolvente passaram a ocupar a maior parte do tempo do artista, a partir desta época até o final de sua vida. Nos seus últimos anos, Monet dedicou-se muito ao projeto de aplicar suas idéias decorativas tanto na casa como no jardim. Nesta tarefa, foi auxiliado por seu jardineiro-chefe e mais cinco ajudantes.

Quando instalou o jardim aquático, entre 1893 e 1901, foi necessário aquecer o pequeno lago para a colocação das ninféias que Monet mandou trazer do Japão pois, sendo flores sensíveis, necessitavam de temperaturas menos frias do que as oferecidas pela água do lago. Sobre a parte mais estreita deste lago é que foi construída uma ponte, em estilo japonês, retratada em inúmeras obras do pintor. A combinação entre o estilo da ponte e a colocação das plantas japonesas permitiu que o jardim de Monet passasse a ser chamado “ jardim japonês”, embora faltassem elementos importantes de um jardim japonês tradicional, como por exemplo, as pedras.
A ponte japonesa serviu de inspiração para que o artista criasse uma série de obras. Desta série, fazia parte “A Ponte Japonesa”, na qual, em primeiro plano, aparece o lago das ninféias e, sobre ele, a ponte que abre a vista para as margens, cuja vegetação rica e densa se reflete na superfície da água. O céu, ao que tudo indica, não aparece na tela propositalmente, para que o olhar concentre-se na flora e na superfície da água. Esta série de quadros inspirados na ponte pode ser considerada como precursora dos quadros que retratam as ninféias, pintados mais tarde, nos quais é possível ver apenas a superfície da água coberta de ninféias, vista muito de perto.


Ninféias, 1914 (Les Nymphéas - óleo sobre tela)

A ponte japonesa foi equipada com uma cobertura de madeira na qual, mais tarde, foram plantadas glicínias, e serviu de modelo para as representações extremamente expressivas e abstratas da ponte entre os anos de 1923 e 1925.
O jardim era, de fato, uma obra-prima de Monet - concebido cuidadosamente de acordo com as idéias do artista. Ali, até as formas e as cores das plantas eram selecionadas sob os seus cuidados. Sabe-se, por exemplo, que um dos jardineiros tinha a incumbência de tratar permanentemente de manter a composição das ninféias na superfície do lago, da forma desejada por Monet. Esta área - arranjada de maneira artística e, de certa forma, separada do resto do jardim - com as ninféias, a ponte, a região à margem do lago com salgueiros, íris, agapantos e o arco das rosas tornou-se fonte dominante de inspiração para o artista.
Tudo isso ficou registrado não só nas telas. No ano de 1908, ao se referir sobre as paisagens com as ninféias que lhe inspiraram muitas obras, Monet escreveu estas palavras: “Estas paisagens refletidas tornaram-se para mim numa obrigação que ultrapassa as minhas forças, que são de um velhote. Mas, mesmo assim, quero chegar ao ponto de reproduzir aquilo que sinto... e espero que estes esforços sejam coroados de êxito”.

*Rose Aielo Blanco é jornalista e editora do www.jardimdeflores.com.br

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